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segunda-feira, 22 de novembro de 2010


O CENTURIÃO DE CAFARNAUM

Pr. Bartolomeu de Andrade



O servo de um certo centurião, a quem este muito estimava, estava doente, quase à morte. Quando o centurião ouviu falar a respeito de Jesus, enviou-Lhe uns anciãos dos judeus, rogando-Lhe que viesse curar o seu servo.

Chegando eles a Jesus, rogaram-Lhe muito, dizendo: “É digno de que concedas isto, porque ama a nossa nação, e ele mesmo nos edificou a sinagoga.”

Então Jesus foi com eles. Estando já perto da casa, enviou-Lhe o centurião uns amigos para Lhe dizer: “Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. Por isso não me julguei digno de ir ter contigo. Dize, porém, uma palavra, e o meu servo será curado. Pois também sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens e digo a este: Vai, e ele vai, e a outro: Vem, e ele vem. Ao meu servo digo: Faze isto, e ele o faz.”

Ouvindo isto, Jesus se maravilhou dele e, voltando-se, disse à multidão que O seguia: “Digo-vos que nem ainda em Israel achei tanta fé.” Voltando para casa, os que foram enviados, acharam curado o servo. (Lucas 7:2-10)


A partir de agora, procuraremos meditar um pouco sobre esse centurião romano, as lições que sua vida nos legou, o seu testemunho, o seu comportamento, suas ações, atitudes, palavras, enfim, o que nos deixou de positivo, de bom.

Nesse texto, vemos um milagre que o senhor Jesus operou de forma extraordinária. Mas não é desse milagre que vamos falar, nem de como Jesus resolveu o problema do centurião, pois vamos nos restringir apenas às atitudes do próprio centurião, no contexto desse milagre.


Autoridade com dignidade


Introdutoriamente, podemos perceber que esse homem tratava seus comandados com apreço. O versículo 2 conta que o centurião estimava muito a um servo que estava doente. O versículo 3 conta que quando o centurião ouviu falar de Jesus, enviou-Lhe uns anciãos, seus amigos, para rogar-Lhe que viesse curar o seu servo.

Atualmente, se olharmos ao nosso redor, se assistirmos noticiários de TV, concluiremos que esse valor está cada vez mais ausente no relacionamento patrão-empregado. Apesar da situação de servo, naquela época, estar muito próxima da condição de escravo, o centurião não levava em conta a sua superioridade social. Servos, na época, normalmente eram pessoas que não tinham nome, nem dignidade, não se amparavam em lei nenhuma. Poderíamos compará-los a animais domésticos, a prestadores de serviços, a carregadores. Eram pessoas “sem eira, nem beira”, como se diz por aí. O centurião, porém, pensava diferente: ele se preocupava com a doença do seu servo, pois os tratava com amor, com atenção e dignidade.


Os perigos do poder


Como pode ser que alguém não saiba o que significava o título “centurião”, convém esclarecermos que era um oficial, uma autoridade representativa do governo romano enquanto dominavam o povo judeu, usando esse nome exatamente porque liderava militarmente uma centena de pessoas.

De uma forma ou de outra, cada um de nós tem um grau de poder, pois não existe ninguém sem poder algum. Já pararam para pensar nisso? Existem pessoas com muito poder, outras com pouco poder, ou até quase nenhum poder, mas sempre existe, no nosso conceito, algum tipo de poder na vida de cada pessoa: a esposa tem poder sobre sua casa; se é mãe, tem poder sobre os filhos; se a pessoa não é casada, tem poder sobre um animal de estimação... Na verdade, cada pessoa detém algum tipo de poder.

É normal ouvir-se por aí sobre o perigo de se lidar com o poder, pois ele corrompe as pessoas Um político, certa vez, disse que temia assumir cargos eletivos porque eles conferiam poder em demasia, na estrutura do país. Ele dizia-se preocupado com os bons costumes, com a justiça, pois provinha de uma formação familiar excelente, e não conseguia administrar muito bem as “negociações” decorrentes do posto que ocupava.

O centurião, por sua vez, possuía uma maneira saudável de lidar com o poder, digna de ser imitada por cada um de nós. Procurava fazer com que os subalternos tivessem uma vida digna, não sendo corrompido pela supremacia que o poder lhe conferia.

Sempre é bom lembrar que se temos alguma coisa em nossas vidas é pela misericórdia divina; se exercemos algum tipo de influência, de atividade, se detemos algum tipo de poder, algum vínculo, precisamos entender que foi Deus quem nos proporcionou essa possibilidade.

Assim, se estamos investidos numa posição de mando, de chefia, devemos nos manter dentro da filosofia de vida desse centurião, tratando nossos inferiores com carinho, amor, presteza e dignidade. Só agindo assim estaremos glorificando a Deus em nossas vidas, pois Deus é quem nos habilita a experimentarmos tudo aquilo que Ele tem projetado para nós.

Chamamos a sua atenção para o fato do centurião lançar mão de todo o seu prestígio, a fim de que seu servo pudesse receber a bênção: mandou os anciãos dos judeus para tratarem com Jesus, usando, de maneira correta, sua influência, e seu poder. Ele não mandou qualquer pessoa, mas os anciãos, as pessoas mais influentes na sociedade judaica. Não há dúvida de que estamos vendo o poder usando bem o poder, tudo por uma boa causa. Jesus era judeu, logo, deveria atender àquelas pessoas.

Como foi bonito! Uma pessoa poderosa usando pessoas poderosas para que um simples servo fosse beneficiado. Estão entendendo agora porque não podemos enxergar só o milagre de Jesus, nessa passagem? Quantas lições os textos da Palavra de Deus trazem para nós, nas suas entrelinhas!

Peçamos a graça de Deus, para que, em qualquer circunstância, em qualquer esfera da nossa vida, não deixemos de ser cristãos de verdade, não deixemos de ser servos de Deus, pois ali Ele será glorificado através da nossa vida. Que o poder não nos corrompa, nem nos distancie das pessoas menos importantes socialmente ou profissionalmente!


Viver com humildade


Parece uma coisa fora de lugar, falar de humildade num centurião, um representante do poder expansionista e totalitarista de Roma, um poder opressor, agressivo, que conquistava o mundo com uma fúria terrível. Mas esse homem conseguia ser humilde mesmo assim, cultivando sentimentos dentro de si, como que tentando se proteger da corrupção reinante.

Observe que quando Jesus concordou em atender ao seu pedido (v.6) e encaminhava-se para sua casa com os anciãos, o centurião manda-Lhe amigos ao Seu encontro, dizendo que não se sentia digno de receber Jesus em sua casa. Confirma essa postura ao dizer que mandou os primeiros emissários e os segundos, por não se sentir digno de um contato pessoal com o Mestre. Assim, pede a Jesus, pelos seus emissários, que Ele apenas dissesse uma palavra de cura, e o servo sararia.

Que mensagem humilde! Apesar de todo o status que desfrutava, de todo o poder que representava, apesar de toda a influência sobre as pessoas da sua casa, da sua cidade, sobre seus soldados, ele protegia o seu caráter, cultivando sentimentos de sensibilidade às dificuldades à sua volta e à própria existência do ser humano.

Apesar de termos tantas coisas, apesar de sermos tão abençoados por Deus e de desfrutarmos de tanta posição, olhando friamente para a nossa vida, veremos que a gente não é nada, embora muitas vezes pareça ao contrário.

Quem é humilde, assemelha-se a Jesus. Aliás, essa foi a primeira lição que Jesus quis ensinar aos Seus discípulos, quando disse: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração.” (Mateus 11:29) Jesus foi um humilde servo de Deus, mesmo sendo o Deus humanizado, que se fez carne e habitou entre nós, o Deus que criou todas as coisas, tanto que foi chamado, em Isaías, de “Pai da Eternidade”. (Isaías 9:6)

No momento em que o centurião vislumbrou Jesus vindo com Seus discípulos, deve ter pensado: Oh, meu Deus, Ele vai entrar na minha casa! Achou aquilo impróprio para a grandeza do Mestre! Foi quando mandou que seus amigos se encaminhassem ao Seu encontro, para dizer-Lhe: “Senhor, não te incomodes! Não sou digno de que entreis em minha casa! Nem ainda me julguei digno de ir ter contigo! Dize apenas uma palavra, e meu servo sarará!” Que humildade tinha esse homem!

Agora, abrimos um parêntese para uma reflexão, pois alguém pode, ao ler este texto, ter um julgamento precipitado. A Bíblia não menciona, mas alguém poderia ter pensado que o centurião possa ter usado aqueles emissários por comodidade, pelo fato de ter poder e por isso não precisaria fazer as coisas pessoalmente. É possível que alguém tivesse pensado isso, pois as pessoas são muito rápidas para julgar, baseando-se apenas em aparências. O versículo 7, porém, registra claramente o motivo dessa atitude: o centurião não se achava digno nem de defrontar-se com o Senhor, apavorando-se ante a possibilidade de Jesus entrar na sua casa.

Que lição para nós! Que humildade tremenda! Se alguém o estava julgando prepotente e comodista, deve ter ficado envergonhado, ao perceber, no final do nosso texto, o real motivo que levou o centurião a agir desse modo.


O amor que age


Nos versículos 4 e 5, quando os anciãos chegam diante de Jesus, apressaram-se em dar tertemunho da nobreza de caráter do centurião, dizendo que ele era digno de merecer a graça que pedia, uma vez que amava a nação israelita, chegando ao ponto de construir uma sinagoga para a comunidade. Parecia que os anciãos estavam se desculpando com Jesus, pelo fato de estarem pedindo ajuda para um centurião dos romanos, povo que estava a oprimir os judeus, como se Jesus não soubesse de todas as coisas.

E esse homem vai se agigantando diante dos nossos olhos, pela narrativa bíblica: preocupava-se com os subalternos, julgava-se indigno de fitar Jesus face a face e, finalmente, são os próprios judeus quem imploravam a Jesus que considerasse o pedido do centurião! Que respeito esse homem conquistou naquela cidade, apesar de estrangeiro, apesar de invasor, apesar de ser o representante do governo injusto de Roma!

O centurião derrubou todos os preconceitos que lhe eram contrários, desde que chegou àquela cidade. Venceu pelo seu testemunho, pelo seu comportamento, pelo seu amor, pela dignidade com que tratava aqueles que o rodeavam, colocando por terra uma barreira cultural e política, e angariando o respeito de todos. Agora ele recebia a bênção de Deus, pois Jesus o honrou publicamente. Quem anda como Deus quer, recebe honra! É como a Bíblia diz: “A quem honra, honra!” (Romanos 13:7)

Que Deus nos ajude a viver com esse sentimento maior, que é o amor, o caminho excelente, o elemento que dinamiza os dons do Espírito, que traz maturidade para a vida cristã, o dom maior de Deus. (1 Coríntios 13:1-13) Sobre esse assunto, o apóstolo João nos ensina o seguinte: “Amemo-nos não somente com palavras...” (1 João 3:18)

O amor se manifestou em obras concretas, pois o centurião amava aquele povo, provando isso ao construir-lhe uma sinagoga, onde pudessem desenvolver a sua religião, o culto ao seu Deus. Esse homem custeou as despesas para a construção da sinagoga, mostrando o verdadeiro amor, aquele amor que se manifesta em obras, e não só com palavras. Amor não é “tapinha nas costas”; é iniciativa, é obra, é ação!

O centurião não usava seu prestígio e poder para “pisar” nas pessoas; ao contrário, usava-os para ajudar aqueles que dependiam dele. A nível de Igreja, uma das coisas que manifesta o amor que o povo tem por ela, é quando a ajuda de maneira tangível, palpável, objetiva e prática.


Fé com discernimento


No versículo 7, ele diz que bastaria uma palavra de Jesus para que seu servo se curasse. Com isso, o centurião mostrou que sabia que Jesus não precisava entrar na casa dele para que o milagre acontecesse. Isso é fé! É a manifestação mais bonita da fé!

No versículo 8, como homem que tem autoridade, ele explica porque tem essa fé: fala dos soldados sob seu poder, dos servos que fazem tudo o que ele manda. Assim, tem fé de que uma palavra de Jesus fará cair por terra qualquer problema. Fé simples! Enxergou na sua própria rotina os reflexos do poder maior que movia o Senhor Jesus. Assim como ele mandava um soldado fazer, e ele fazia, se Jesus mandasse a doença sair, ela sairia! Apenas por uma palavra! Que simplicidade! Que entendimento prático!

Jesus maravilhou-se! E veja que era preciso muito valor num homem, para que produzisse espanto em Jesus! A manifestação simples da fé daquele homem produziu espanto em Jesus! Virando-se para a multidão que O seguia, Jesus disse: “Digo-vos que nem em Israel tenho achado tanta fé.”

Ato contínuo, os emissários voltaram para casa e encontraram o servo são, sem mais nenhum problema de enfermidade. Ali estava a recompensa às atitudes de fé e humildade : honra pública!


Conclusão


Toda essa história nos mostra que vale a pena tratarmos com dignidade aqueles que nos rodeiam, especialmente aqueles que dependem de nós para alguma coisa. Ao invés de espezinhar, vamos tratá-los com dignidade, pois isso agrada ao Senhor. A Bíblia diz que “Deus resiste aos soberbos, mas concede graça aos humildes.” (Tiago 4:6) E diz ainda: “Humilhai-vos debaixo da potente mão de Deus, para que Ele, em tempo oportuno, nos exalte.” (1 Pedro 5:6). É uma virtude recomendada por Deus, pois enriquece nosso caráter, abre nosso coração para recebermos as maiores bênçãos do Senhor.

“Não sou digno de que entres na minha casa.” É como de dissesse: Não sou digno nem de olhar para o Teu rosto! Que humildade! É como se dissesse: Eu sou tão pecador e Tu és tão santo! Como poderíamos ficar frente a frente um do outro?

Vale a pena crer em Deus, a despeito da nossa luta, a despeito dos problemas, a despeito das impossibilidades, pois Ele honra a nossa fé, e honra publicamente, para que não fique dúvida nos incrédulos. Deus não está muito preocupado com a nossa aparência, com os nossos títulos, com o nosso status; Deus quer ver é fé e humildade em nosso coração, para que possamos ser abençoados por Ele, para que nos tornemos pessoas felizes, pacíficas com os outros e conosco mesmos. Veja que em Hebreus 11 Deus fala da galeria dos Heróis da Fé, honrando o comportamento de pessoas como Sansão, Jefté, Abraão, Isaque, Jacó... Fala dos profetas, dos patriarcas que creram n’Ele, a despeito de tudo e de todos.

Estamos terminando aqui essa vista panorâmica das ações, das palavras e das atitudes do centurião de Cafarnaum, pois ela já nos ensinou que valores devemos cultivar, que sentimentos devemos possuir, que palavras devemos dizer, para que o favor de Deus se derrame sobre as nossas vidas. Imitemos esses valores da vida do centurião, de forma que Deus se volte também para nós e nos abençoe com Sua graça e misericórdia.

Devemos extrair de todo o texto uma lição da maior importância, em termos de autoridade espiritual. Pela explicação que o centurião dá (“...pois também eu sou homem sujeito à autoridade”) em relação à sua confiança na Palavra de Jesus, entendemos que o princípio da autoridade está na submissão, pois até os demônios estão sob a autoridade de Deus. Eles eram anjos, e por isso sabem como a coisa funciona, e quem é que manda no mundo espiritual.

Submetamo-nos, pois a Deus à Sua Palavra, como também às autoridades constituídas por Ele, a fim de que nessa submissão exigida pelo Senhor, vejamos fluir em nós essa tão almejada autoridade espiritual, pois com ela viveremos de maneira triunfante sobre essa terra.